Dia
4 de Abril
Carta 3
226. Senti grande tristeza por ter que deixar meus discípulos
que tinham me servido tão bem. Com a tristeza, todos os meus temores e
conflitos reapareceram.
227. Tive momentos de profunda auto piedade. Senti que ninguém
compreendia o que havia procurado fazer pelo meu povo e o sacrifício que estava
disposto a fazer por ele.
228. João estava contando uma expressiva história sobre a última
noite dos israelitas no Egito, antes de escaparem para o deserto.
229. Falava das instruções de Moisés ao chefe de cada família
para que matassem um cordeiro sem mancha, que o cozinhassem de certa maneira e
pintassem com aquele sangue as portas das moradias israelitas, porque naquela
mesma noite viriam os anjos para matar todos os filhos primogênitos dos
egípcios e o seu gado.
230. Com vivacidade, recordou a agitação dos egípcios ao
despertarem e encontrarem o primogênito de cada lar ensanguentado, sem que
nenhum tivesse se salvado.
231. Era o tipo de história horrível que eu rejeitava por não
ter nenhum valor para a pessoa que buscava a Verdade espiritual mais elevada.
Eu me perguntava até que ponto meus discípulos realmente tinham entendido
quando eu falava de seu “Pai Celestial” e Seu amor por toda a humanidade.
232. Como podiam entusiasmar-se com o pensamento de “anjos”
matando os primogênitos dos egípcios quando eu tinha dito com toda a clareza
que “Deus”, o “Pai”, era Amor?
233. Mas os Judeus sempre haviam se preocupado com o
derramamento de sangue para redimir seus pecados. Até mesmo Abraão, o fundador da nação
israelita, convenceu-se de que devia levar o seu único filho ao deserto,
matá-lo e oferecê-lo em sacrifício a Deus. Um pensamento pagão e revoltante!
234. Pensei nos sacrifícios de animais no Templo. Amando a todos
os seres vivos da criação como eu amava, esta prática era para mim uma
abominação.
235. E agora eu estava a ponto de ser levado para a morte porque
tinha me atrevido a pronunciar as palavras da Verdade. E quando considerava o
tão pouco do meu conhecimento que tinha conseguido transmitir, perguntava-me
por que eu tinha sido enviado em tal missão!
236. Senti de repente um estremecimento de ressentimento e raiva
se entrelaçar aos sentimentos habituais de amor para com aqueles homens. Com
certo cinismo, perguntava-me que sinal poderia deixar que fosse uma recordação
eficaz, para que os meus ensinamentos retornassem a suas mentes quando já não
estivesse com eles.
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